As Referências Mitológicas em Legacy of Kain: Soul Reaver

Legacy of Kain: Soul Reaver é uma obra-prima que combina uma narrativa profunda com um universo rico em simbolismos e referências. Mas você sabia que muitos personagens e elementos desse jogo têm raízes na mitologia e na história antiga? No vídeo de hoje, vamos explorar essas conexões e descobrir como a mitologia influenciou os personagens de Soul Reaver.”

SEÇÃO 1: RAZIEL

créditos a Raina Audron

Comecemos com Raziel, o protagonista trágico de Soul Reaver. O nome ‘Raziel’ tem origem no anjo da tradição judaica, Raziel, que significa ‘Segredo de Deus’. Esse anjo é conhecido como o guardião dos mistérios divinos, e seu papel é revelar os segredos do universo. Assim como o anjo Raziel é um intermediário entre o divino e o mortal, o Raziel do jogo é uma ponte entre o mundo dos vivos e dos mortos, buscando respostas sobre sua própria existência.

Raziel é o arcanjo responsável por guardar e revelar os conhecimentos ocultos, segundo os ensinamentos da Cabala (judaísmo). Sua primeira aparição ocorre no apócrifo Livro dos Segredos de Enoque, onde é referido como Reuel ou Rasuel. O nome Raziel significa “segredo de Deus”, e ele é amplamente conhecido como o “Guardião dos Segredos”, “Anjo das Regiões Secretas” e “Anjo dos Mistérios”. Sob o nome de Galizur, ou “Revelador da Pedra”, Raziel é descrito como o “príncipe reinante do segundo céu”. Na hierarquia judaica dos anjos, ele ocupa diversos papéis, sendo comumente representado como um querubim, um ofanim ou um dos erelim.

Aparência 

Raziel é descrito de diversas maneiras, dependendo da tradição. Na tradição judaica, ele é retratado com asas azuis e vestindo um manto cinza. Na série Rogue Mage, de Faith Hunter, ele é descrito de forma mais detalhada: “Suas penas são de um escarlate puro, mais escuro que a plumagem de um cardeal, com nervuras e veias de um azul-marinho brilhante, que se tornam de um vermelho intenso quando ele está lutando ou excitado. Seus olhos são mais belos que o mais fino rubi, com íris vermelhas contrastando com um rosto de pele morena e mandíbula esculpida em mármore. Ele exala um perfume de mel e chocolate.

Lendas 

Raziel é considerado o autor do Sefer Raziel HaMalach (Livro de Raziel, o Anjo), que contém todo o conhecimento terreno e celestial. Como um dos ofanim, ele permanece próximo ao trono de Deus, onde ouve tudo e registra em seu livro. De acordo com o Livro de Raziel, ele é o anjo da magia e foi quem ensinou astrologia e adivinhação à humanidade. 

Compadecido da situação de Adão e Eva, que foram banidos do Jardim do Éden após comerem o fruto proibido, Raziel decidiu entregar-lhes seu livro, na esperança de que pudessem usá-lo para se redimir e voltar à comunhão com Deus. Essa ação irritou outros anjos, que tomaram o livro de Adão e o lançaram no mar. Posteriormente, o livro foi recuperado por uma divindade primordial chamada Rahab, e mais tarde passou para as mãos de Enoque (que reivindicou sua autoria), Noé (que utilizou o conhecimento do livro para construir sua arca), e, eventualmente, Salomão (que adquiriu um conhecimento mágico extraordinário e controle sobre os 72 demônios da Goetia).

SEÇÃO 2: RAHAB

Rahab

Rahab” é literalmente traduzido como “Violência”, embora o Dicionário não seja claro quanto à língua de origem. O nome hebraico de Rahab é “Sar Shel Yam”, ou “Príncipe do Mar Primordial.

Como mencionado, Rahab é descrito na lenda bíblica como um demônio ou anjo das profundezas, que foi destruído duas vezes por Deus — primeiro por “se recusar a separar as águas superiores e inferiores no momento da Criação” e novamente por tentar impedir a fuga dos hebreus dos egípcios quando eles cruzaram o Mar Vermelho. 

O Dicionário (através do Talmude Babilônico) associa Rahab ao Leviatã/Behemoth e ao Anjo da Morte. 

No jogo, Rahab é o senhor das águas, transformado em uma criatura adaptada à vida aquática, ecoando a ideia de uma criatura poderosa e temível.” Ele se a semelha a um tritão para ser mais exato. 


SEÇÃO 3: SARAFAN

Os Sarafan são uma ordem de guerreiros fanáticos dedicados à caça de vampiros. O nome e o conceito de “Sarafan” podem remeter aos “Serafins”, anjos de seis asas mencionados na tradição cristã, conhecidos por sua pureza e zelo. Essa conexão angelical é irônica, pois os Sarafan acabam corrompidos ao se transformarem em vampiros, subvertendo assim a ideia de pureza e justiça que originalmente simbolizavam.

Apesar de pouca informação e fonte de referência, podemos dizer que usaram esse nome como uma interpretação ilusória. Apenas uma referência mitológica, sendo que não tem nenhuma ligação com os nomes mencionados na bíblia.


SEÇÃO 4: TUREL

Turel é um personagem enigmático, cujo nome pode estar relacionado ao anjo ‘Turel’ da tradição apócrifa, que era um dos anjos caídos. Este anjo é mencionado no Livro de Enoque, um texto judaico que descreve a rebelião dos anjos contra Deus. No jogo, Turel é um dos vampiros mais poderosos e, simbolicamente, pode representar a queda da graça divina.  

Turel Também segundo a mitologia descrita no dicionário de anjos, de Gustav Davidson. Fazendo parte da rebelião que gerou os nefilins, criaturas meias anjos e meio humanos.


SEÇÃO 5: DUMAH

Dumah é uma figura complexa que aparece em diversas mitologias e tradições religiosas. Seu nome, que significa “silêncio” em aramaico, reflete seu papel como anjo do silêncio e da morte. 

Mitologia Judaica 

Na tradição judaica, Dumah é um anjo associado ao silêncio e à morte. Ele é mencionado no Zohar, um texto cabalístico, como o chefe de Gehenna (inferno) e é responsável por supervisionar milhares de anjos de destruição encarregados de punir os pecadores (Conscious Reminder)  (Jewish Encyclopedia). No Talmude, há uma história onde Dumah dá aos pecadores um dia de descanso no sábado, permitindo que eles vaguem pela Terra antes de serem retornados ao inferno ao anoitecer (Occult World) (Jewish Encyclopedia)

Mitologia Babilônica 

Na mitologia babilônica, Dumah é retratado como o guardião do décimo quarto portão do céu. Aqui, ele continua a ser uma figura associada ao mundo dos mortos, onde tem um papel mais de guardião do que de um anjo destrutivo (Conscious Reminder)  (Jewish Encyclopedia). 

Outras Tradições 

Dumah também é mencionado como o “anjo da tutela” do Egito, e às vezes é confundido com um príncipe do inferno, embora não seja um anjo caído. Ele é visto como um ser que assegura que os pecadores recebam o que merecem, mas também ensina sobre o valor do silêncio e da meditação (Occult World)  (Listverse). 

No jogo, Dumah é um ser poderoso e imponente, mas sua imobilidade e necessidade de ressurreição refletem a associação com o silêncio da morte.


SEÇÃO 6: MELCHIAH

Melchiah é um nome que aparece em diferentes contextos e mitologias, incluindo referências bíblicas e na cultura popular dos jogos de video game. 

Referências Bíblicas: Melchiah, também conhecido como Malquias ou Malchijah, é um nome de origem hebraica que significa “Yah é Rei” ou “o rei é Yahowah, aportuguesado (Jeová Deus)”. 
 
Na mitologias não-canônicas e fontes adicionais, Melchiah é associado a entidades angelicais. Em algumas tradições, ele é listado como um anjo que “serve o sangue”, e seu nome é usado em amuletos mágicos, especialmente aqueles destinados a proteger contra hemorragias. 


SEÇÃO 7: ARIEL

O nome “Ariel” aparece em diversas mitologias e contextos culturais, e suas interpretações podem variar. Aqui estão algumas das principais representações e etimologias associadas a Ariel: 

Mitologia Judaica: 

Anjo Ariel: No contexto da Cabala e da tradição judaica, Ariel é frequentemente considerado um dos anjos que governam sobre a natureza. Ele é associado com a terra e a proteção da criação. Em algumas tradições, Ariel é descrito como um anjo que ajuda na cura e na purificação. 

Etimologia: 

Origem do Nome: O nome “Ariel” tem origens hebraicas e é geralmente entendido como significando “Leão de Deus” ou “Altare de Deus”. Em hebraico, “Ari” significa leão e “El” significa Deus. Esse significado é refletido em algumas tradições judaicas e também em representações culturais.


SEÇÃO 8: ZEPHON

Zephon

Zephon, o senhor das aranhas e teias, traz à mente a figura de Arachne da mitologia grega. Arachne era uma talentosa tecelã que desafiou a deusa Atena e, como punição, foi transformada em uma aranha. Assim como Arachne, Zephon vive em uma catedral coberta de teias, simbolizando sua transformação monstruosa e a traição que levou à sua forma grotesca. Ele também representa o tema da prisão e do controle, características inerentes a um ser que tece sua própria armadilha.” 

Zephon na Tradição Judaico-Cristã 

Vigilante Celestial: Em algumas interpretações, Zephon é descrito como um arcanjo, um dos anjos mais poderosos e próximos de Deus. Sua principal função é a de vigiar e proteger os céus e a Terra. 

Zephon na Tradição Islâmica 

Um dos Anjos: Na tradição islâmica, Zephon também aparece como um dos anjos de Deus, embora seu papel seja menos detalhado em comparação com outras figuras angélicas como Jibril (Gabriel) ou Mikail (Miguel). 

Vigilância e Proteção: Seus atributos na tradição islâmica são semelhantes aos da tradição judaico-cristã, sendo frequentemente associado à vigilância dos céus e à proteção dos seres humanos. 

Zephon significa “Aquele que Olha para Fora”. 

Zephon é um querubim (um anjo com uma espada flamejante, não a imagem popular de um bebê alado), e um príncipe guardião do Paraíso, de acordo com o Dicionário. Em Paradise Lost, de Milton, ele é enviado por Gabriel para encontrar e confrontar Satanás. 

Um leitor chamado Rick conta esta história

Satanás convenceu Zephon a se juntar a ele na batalha porque Zephon era um estrategista brilhante. Durante a batalha que ocorreu no céu, a ideia de Zephon era incendiar o céu. Quando Satanás perdeu a batalha, Zephon foi expulso do céu junto com todos os outros anjos caídos, que incluem Turel, Dumah, Melchiah e Rahab. O dever de Zephon tornou-se atiçar para sempre as chamas do inferno. 


SEÇÃO 9: MALEK

Malek

Finalmente, temos Malek, o guerreiro espectral que protege os Pilares de Nosgoth. Malek é inspirado nos cavaleiros fantasmas das lendas, como os guardiões eternos de lugares sagrados. Sua existência como uma entidade espectral presa em uma armadura ecoa a ideia de uma punição eterna por sua falha em proteger os Pilares.” 

O nome Malek é associado a várias figuras históricas e mitológicas, abrangendo diferentes culturas e períodos. Em termos gerais, “Malek” tem origem no árabe, onde significa “rei” ou “soberano”. Essa raiz linguística reflete a importância e a autoridade associadas ao nome em várias tradições. 

O nome Malek está atribuído a múltiplas interpretações mitológicas. Para compreender seu significado, é fundamental considerar o contexto cultural e histórico em que ele aparece.


CONCLUSÃO

A mitologia em Soul Reaver não é apenas pano de fundo; é o alicerce que dá profundidade e complexidade ao universo do jogo. Cada personagem, com suas referências e simbolismos, contribui para uma história rica e envolvente. Ao entendermos essas influências, podemos apreciar ainda mais a genialidade por trás de Legacy of Kain: Soul Reaver.”  
 
A maioria das informações neste artigo foi pesquisada no excelente Dicionário de Anjos: Incluindo os Anjos Caídos, de Gustav Davidson, Enciclopédia mitológica, Pierre Grimal  e a Mitologia” de Edith Hamilton.

Referências:

Menkay

Estudou na instituição Leonardo Da Vince, cursou Tecnólogo de Segurança do trabalho, fez Design no CETEB, Amante de literatura e Criador do canal do Menkay, sua paixão é produzi conteúdo para youtube de games.

https://www.menkay.com.br

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